Hoje, no Pará, preenchem os currículos de ensino de algumas disciplinas conteúdos como: colonização na Amazônia, Ciclo da borracha, grandes projetos, e outros ainda relacionados à história local, no intuito de aproximar os alunos dos processos por que passa e passou a região. Na escola alguns alunos mais sensibilizados, do que outros, como em todas as disciplinas, em geral passa-se adiante. Como que uma história distante, muitas vezes de mãos dadas com a fadiga da transmissão de um conteúdo que em nada se parece ou influência em quem transmiti ou escuta, com algumas exceções, claro.
A apreensão destes conhecimentos pode motivar em alguns alunos inúmeras questões, curiosidades, como em mim durante toda minha formação. Mas uma pergunta nunca havia me ocorrido, quem será que conta os fatos da forma como nos é passado na escola? Nunca teria me feito tal pergunta se eu não tivesse a oportunidade de ter contato com uma outra forma de apreende-los. Com os olhos de quem vive, com as marcas do chão que teve de acolhê-los.
Assustando quem vivencia a estrada por jornais globais, nada de asfalto exceto em alguns pequenos trechos, intrafegável por qualquer inexperiência, acredito. Chegamos a Anapu, memórias de jornal mais perto do que nunca. Em uma travessia de balsa tivemos que sair do ônibus, foi quando conhecemos o vendedor de castanhas que nos recepcionava, com o tabuleiro de seu produto: quer castanha? Mikey andarilho da floresta, nem que seja só nos chinelinhos tamanho 27 do vendedor. “O que tu mais gostas de fazer por aqui meu amigo, brincar?” “Vender, ora”. “E tu não gostas de brincar (reparem na ingenuidade do entrevistador)?” “Eu até gosto, mas gosto mais de vender, me da uma moeda pra eu comprar coca-cola?.”
A melancolia da viagem passou a partir daí a dar lugar a certa agonia, e coragem. Tínhamos companhia. Fim do protesto, rumo a Altamira! Chegando lá, mais ou menos como esperava, média cidade na região, tem quase a mesma cara. Certo? Era preciso sentir Altamira. O que foi possível depois de nos acomodarmos no alojamento. O alojamento infelizmente só tinha um banheiro, foi então que as águas do Xingu nos chamaram pela segunda vez. E desta não resistimos.
Já no seminário, de público formado em grande maioria por indígenas, conhecemos “as vozes não consideradas”, e também as línguas resistentes, as feições tão familiares, de um povo tão distinto e junto por um motivo. Foi aí que percebi. Estamos sendo aqui representados como nunca por essas vozes. Consideradas por muitos atrasadas e inferiores. Houve para mim naquele instante um deslocamento profundo do referencial de representatividade. Aquelas canções, danças, gritos, mesmo em línguas diferentes acolhem nossos anseios de respeito, justiça, sensibilidade.
Com certeza, estar aí é uma das maiores experiências de vida que alguém pode ter, não só pela grandeza do monstro, mas pela beleza do lugar, a história, as pessoas! Pra gente que passou dias aí foi, não dá nem pra imaginar o que passas diáriamente... Bem que podias compartilhar tua experiência em forma de texto, imagem, etc. na nossa próxima edição, não? =D
ResponderExcluirEspero que aceites!
e claro, sempre em luta!
Xingu Vivo!
Abraços